segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A queimada da cana e seu impacto socioambiental*

por Evandro de Souza e João Edson Pacheco
O sistema climático é um sistema complexo, sendo ele regulado pela atmosfera, mas também pelo que ocorre nos oceanos, na criosfera (capa glacial, gelo marinho e neve), na geosfera (superfície da terra), na hidrosfera(oceanos, lagos, rios) e na biosfera (conjunto de seres vivos).

A composição atmosférica atual é fundamental para a sobrevivência na terra. Por meio de ciclos naturais, os constituintes são consumidos e reciclados. As ações antropogênicas (conjunto de transformações que levaram, na evolução animal, ao surgimento do homem na superfície da terra) vêm provocando desequilíbrios neste sistema, conduzindo à acumulação, na atmosfera, de substâncias nocivas ao próprio homem e ao meio ambiente.

A inconseqüência no uso do fogo nas atividades agrárias, vem sendo utilizada desde o inicio da colonização. Com a febre da monocultura da cana, a prática de queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação, ocorriam as queimas da palha da cana, para facilitar a colheita. por conta do proálcool (1975), a cultura canavieira avançou com voracidade sobre o campo, assim aumentando a pratica da queima, que por sua vez provoca um uso maior de agrotóxicos e herbicidas, afetando os micro organismos do solo e contaminando o lençol freático e os mananciais.

Tais queimadas causam a liberação para a atmosfera de ozônio, grandes concentrações de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), que afetam a saúde dos seres vivos, reduzindo também as atividades fotossintéticas dos vegetais, contribuindo assim para o efeito estufa gerando uma reação em cadeia com o sistema climático, denominado aquecimento global.
As queimadas existem apenas para reduzir os custos do setor sucro-alcooleiro com a colheita da cana de açúcar, pois como sabemos o rendimento do trabalhador cortador de cana ou da colheitadeira é triplicado quando a palha é queimada. Contudo, deveríamos tomar como exemplo Cuba que a partir da década de 70, iniciou a mecanização das colheitas da cana-de-açúcar, abandonando lentamente o uso do fogo nos canaviais, eliminando totalmente essa prática nos dias atuais. Método semelhante adotou as Filipinas, com associação de outras culturas no meio dos canaviais, sendo que a palha seca da cana é utilizada como adubo orgânico. No caso de Uberaba já poderia ser implantado imediatamente, pois já observamos riscos para a sociedade e para o meio ambiente.

Nas palavras de Gilberto Freire faço um alerta a população “ O canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana valorizou o canavial tornou desprezível a mata.”

E sendo assim nossa cidade irá se transformar em um nordeste mineiro, onde terras produtivas se transformará em terras áridas.

O alerta é para que as autoridades e a sociedade em geral tenham consciência dessa desastrosa atividade canavieira. Não devemos esperar que nosso legislativo não atenda o clamor da sociedade.

Vivemos em uma sociedade falida de princípios morais e éticos, onde nossos representantes reafirmam que o poder é a manipulação das massas.

Com tudo isso, nosso grito é para que o poder legislativo abra uma ampla discussão com a sociedade e que não aceitem uma determinação vertical do executivo, promovendo uma audiência pública com todas as entidades de classe, sindicatos, ong´s, universitários, entidades religiosas dentre outros. Somente assim iremos exercer nossa cidadania e o compromisso democrático.

Evandro Souza é sociólogo e presidente da Contra Corrente
João Edson Pacheco é professor de filosofia e conselheiro da Contra Corrente.
* Texto que originou matéria que foi publicada no Jornal de Uberaba no dia 22/10/2007

domingo, 28 de outubro de 2007

Manifesto de Fundação da Contra Corrente

A Contra Corrente é uma organização independente e autônoma, fundada em outubro de 2007 por um grupo de amigos, comprometidos na defesa do interesse público e o incentivo ao exercício da cidadania.

A necessidade de uma organização como a Contra Corrente pode ser bem compreendida pelas características do país e de nossa cidade, quanto aos atos de nossos governantes.

Uberaba possui uma população de quase 300 mil habitantes, e as mudanças políticas, sociais e econômicas que o país atravessou, refletem também por aqui. É preciso acompanhar nossos representantes e fiscalizar a aplicação dos recursos oriundos dos impostos pagos pela população.

Esta fiscalização juntos aos órgãos públicos requer efetiva participação da sociedade. Ainda que reze na Constituição que devemos ter eleições livres, um Congresso e um Judiciário independentes e as demais garantias constitucionais típicas das democracias representativas, sabemos que as práticas do mundo real nem sempre refletem nas estruturas formais.

Para que a sociedade uberabense não fique a mercê de grupos políticos que visem em preservar seus próprios interesses temos como objetivos:
1- Estabelecer parcerias com outras entidades públicas ou privadas, colaborando com atuação desses órgãos e da sociedade civil na defesa da cidadania;
2- Propor políticas públicas que vão de encontro ao interesse da população;
3- Apoiar e dar suporte técnico e jurídico a pessoas, grupos, movimentos e organizações que tenham os mesmos objetivos da "Contra Corrente";
4- Organizar, divulgar e executar projetos de políticas sociais e de combate a irregularidades em instituições públicas;
5- Promover palestras, debates e encontros;
6- Ajudar órgãos e entidades no planejamento, mobilização de recursos e implantação de projetos de interesse público;
7- Promover a criação de uma cultura de prestigio da ética, honestidade e responsabilidade social, elaborando publicações, buscando espaços nos meios de comunicação por intermédio de campanhas, artigos, matérias e programas que estimulem o exercício da cidadania;
8- Desenvolver outras atividades necessárias aos cumprimentos das finalidades da Contra Corrente.

Tais dispositivos são necessários por entendermos que existe uma ineficiência dos controles sociais, por termos uma estrutura que conferiu autonomia ao estado e aos municípios dando total independência na formulação de regulamentos e na adoção de praticas administrativas.

Essa autonomia vem causando uma disparidade nos terrenos social e econômico levando a criação de instrumentos que dispõe a combater a corrupção e a fortalecer a cidadania, por não termos uma transparência que corresponda a realidade presentes no Executivo, Legislativo, Judiciário e o próprio Ministério Público, sabemos que a lei vale pouco e que na prática ela é inacessível para a grande maioria da população.

Temos consciência de que esta luta é árdua e que setores patrimonialistas e elitistas vão tentar impedir a mobilização da prática cidadã, pois só ela é capaz de fazer com que estes setores tenham respeito com o povo e com o seu dinheiro. Nem por isso vamos desistir. Vamos à luta, ainda que seja para nadar "contra a corrente".

Uberaba, 07 de Outubro de 2007.