por Evandro de Souza e João Edson Pacheco
O sistema climático é um sistema complexo, sendo ele regulado pela atmosfera, mas também pelo que ocorre nos oceanos, na criosfera (capa glacial, gelo marinho e neve), na geosfera (superfície da terra), na hidrosfera(oceanos, lagos, rios) e na biosfera (conjunto de seres vivos).
A composição atmosférica atual é fundamental para a sobrevivência na terra. Por meio de ciclos naturais, os constituintes são consumidos e reciclados. As ações antropogênicas (conjunto de transformações que levaram, na evolução animal, ao surgimento do homem na superfície da terra) vêm provocando desequilíbrios neste sistema, conduzindo à acumulação, na atmosfera, de substâncias nocivas ao próprio homem e ao meio ambiente.
A inconseqüência no uso do fogo nas atividades agrárias, vem sendo utilizada desde o inicio da colonização. Com a febre da monocultura da cana, a prática de queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação, ocorriam as queimas da palha da cana, para facilitar a colheita. por conta do proálcool (1975), a cultura canavieira avançou com voracidade sobre o campo, assim aumentando a pratica da queima, que por sua vez provoca um uso maior de agrotóxicos e herbicidas, afetando os micro organismos do solo e contaminando o lençol freático e os mananciais.
Tais queimadas causam a liberação para a atmosfera de ozônio, grandes concentrações de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), que afetam a saúde dos seres vivos, reduzindo também as atividades fotossintéticas dos vegetais, contribuindo assim para o efeito estufa gerando uma reação em cadeia com o sistema climático, denominado aquecimento global.
As queimadas existem apenas para reduzir os custos do setor sucro-alcooleiro com a colheita da cana de açúcar, pois como sabemos o rendimento do trabalhador cortador de cana ou da colheitadeira é triplicado quando a palha é queimada. Contudo, deveríamos tomar como exemplo Cuba que a partir da década de 70, iniciou a mecanização das colheitas da cana-de-açúcar, abandonando lentamente o uso do fogo nos canaviais, eliminando totalmente essa prática nos dias atuais. Método semelhante adotou as Filipinas, com associação de outras culturas no meio dos canaviais, sendo que a palha seca da cana é utilizada como adubo orgânico. No caso de Uberaba já poderia ser implantado imediatamente, pois já observamos riscos para a sociedade e para o meio ambiente.
Nas palavras de Gilberto Freire faço um alerta a população “ O canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana valorizou o canavial tornou desprezível a mata.”
E sendo assim nossa cidade irá se transformar em um nordeste mineiro, onde terras produtivas se transformará em terras áridas.
O alerta é para que as autoridades e a sociedade em geral tenham consciência dessa desastrosa atividade canavieira. Não devemos esperar que nosso legislativo não atenda o clamor da sociedade.
Vivemos em uma sociedade falida de princípios morais e éticos, onde nossos representantes reafirmam que o poder é a manipulação das massas.
Com tudo isso, nosso grito é para que o poder legislativo abra uma ampla discussão com a sociedade e que não aceitem uma determinação vertical do executivo, promovendo uma audiência pública com todas as entidades de classe, sindicatos, ong´s, universitários, entidades religiosas dentre outros. Somente assim iremos exercer nossa cidadania e o compromisso democrático.
Evandro Souza é sociólogo e presidente da Contra Corrente
João Edson Pacheco é professor de filosofia e conselheiro da Contra Corrente.
* Texto que originou matéria que foi publicada no Jornal de Uberaba no dia 22/10/2007