sábado, 15 de dezembro de 2007

Wal-Mart

Um assunto bem chamativo na semana de Uberaba foi, com certeza, a chegada do hipermercado americano Wal-Mart, prevista para o primeiro semestre de 2008. E, recentemente, também recebemos outras franquias, como o Bob's, a volta do Habib's, e a pizzaria e self-service Queropizza, todos no ramo alimentício. Isso nos leva a raciocinar sobre um possível aumento do poder aquisitivo do uberabense, pois vieram num curto espaço de tempo. E isso, obviamente, é positivo para o crescimento da cidade.

Quando soube-se da vinda do Carrefour, foram muitas as especulações, inclusive de que grande parte dos pequenos supermercados seriam obrigados a fechar, e que a concorrência seria muito grande. Outros ousaram dizer que o hipermercado francês não daria certo, pois estava além das necessidades de Uberaba. Para confirmar que a renda do uberabense provavelmente está aumentando, o Carrefour se consolidou, junto com a abertura de uma nova unidade do Bretas, e os pequenos supermercadistas não faliram.

Não podemos esquecer também da fama uberabense de os estabelecimentos não darem certo e fecharem rápido, principalmente quando os empreendimentos provêm da própria cidade. Quando abre alguma coisa nova, todos prestigiam, mas após algum tempo são poucos o que conseguem realmente cativar a população de Uberaba. E o que vem acontecendo no setor alimentício é o contrário, talvez os habitantes estejam mais preocupados em se alimentarem melhor. E também não esqueçamos a outra fama que a cidade tem; as pessoas demonstram ter uma vida confortável, a qual realmente está sustentada numa falta de preocupação com comer bem. Em outras palavras, parecem ricos mas passam fome.

O que mais se propaga com a vinda da Wal-Mart é a criação de empregos, que de acordo com os meios de comunicação da cidade chegam a mil, entre diretos e indiretos. Além disso, a rede está proposta a investir em projetos sociais, como um flat para idosos. Essa mesma rede norte-americana de hipermercados vende, nos EUA e no Canadá, armas e munições, comércio muito criticado devido a facilidade de obtenção de um artefato com o qual se mata pessoas. Ainda imagino o que aconteceria no Brasil se armas fossem vendidas em supermecados... melhor nem imaginar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

A alienação dos jovens

Existe um estereótipo que define a atual geração de jovens: alienados, egocêntricos, individualistas e desengajados. Por mais que ainda existam adolescentes com maiores preucupações do que a balada do final de semana, esses constituem uma minoria na atual sociedade brasileira, bem diferente do que era presenciado nos anos 60 e 70, com as ações contra a ditadura, e nos anos 90 com o impeachment do então presidente Collor. E as pessoas se perguntam o que aconteceu e acontece com essa geração da qual faço parte, e que parece estar estática.

A visão do mundo está cada vez mais capitalista e centrada em retornos financeiros. Os pais estão preocupados se o filho está numa boa escola, se aprendeu alguma língua estrangeira, se vai ingressar na faculdade, se será bem sucedido profissionalmente. Mas muitos não se preocupam se estão criando pessoas conscientes politicamente, que tenham senso crítico diante de tanta coisa veiculada pela mídia e que pensem um pouco mais na situação do outro, e na situação do planeta. Não se criam tantos jovens que olhem um pouco mais além das cercas elétricas que circundam suas casas, que enxerguem que os problemas do mundo também são de sua conta. E o mais importante, que cresçam.

A verdade é que criou-se o fenômeno da adolescência prolongada. Os pais preferem ter seus filhos bem perto de seus olhos, pensando que assim evitam que eles se envolvam com drogas, más companhias e violência, do que atirá-los ao mundo pra que se virem sozinhos, trabalhem e almejem constituir seu próprio lar e assim adquiram importantes responsabilidades. Principalmente a classe média que foi pobre um dia, impõe um modelo de vida para seus filhos que eles não tiveram, e que julgam melhor. É um conforto conformista, que muitas vezes o contato com a realidade externa se limita àqueles proporcionados pelos botões de um controle remoto.

Os jovens ativistas são poucos e, naturalmente, o sistema impõe a ele muitas dificuldades. Para o sistema, o papel do adolescente é estudar, se formar, saber ganhar dinheiro, ser o melhor na sua área. E ser o melhor é saber corresponder às expectatiavas da sociedade, um bom pesquisador, ou que cumpra sua profissão satisfatoriamente. Porém não há interesse de formar o jovem que lute por mais igualdade, que se revolte com as injustiças sociais do mundo, que veja a importância da preservação ambiental. Os problemas do globo estão cada vez mais complexos de serem resolvidos, exemplos são o tráfico de drogas que formou um Estado paralelo em várias capitais e o tão profanado aquecimento global. Então, precisamos de uma geração ainda mais inteligente e engajada para que os mesmos sejam sanados ou atenuados. E não é isso que se vê...

Os jovens pessoalmente não têm culpa de serem alienados. Há um conjunto de criação, somado ao capitalismo forte e às atuais conjunturas sociais que formaram essa geração, afinal não está geneticamente definido que um adolescente esteja politizado ou não. O maior empecilho mesmo é o conformismo generalizado, que não se limita à faixa etária dos jovens, mas dos adultos e idosos também. É aquela história, enquanto a enchente não chega na sua porta, você não se incomoda muito...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A Questão do CESUBE

*Assinam também este post, Evandro de Souza e João Edson Pacheco

Algumas pessoas me questionaram preocupadas a respeito da declaração do prefeito Anderson Adauto sobre o fim do convênio com a FUMESU, fundação mantenedora do CESUBE. O que tenho a dizer é que era uma atitude mais do que esperada, e que ele não se preocuparia nem com o fato de isso poder ser um tiro no pé político. Sensibilidade com os estudantes, em sua maioria estudantes oriundos de escolas públicas que vêem no CESUBE uma alternativa viável para obter um diploma de curso superior, o prefeito definitivamente não tem. O prefeito tem "argumentos fortes" para deixar de repassar o dinheiro do CESUBE. Então por que insistirmos nessa briga?


Como disse anteriormente, a antiga Faculdade de Educação de Uberaba (FEU) foi criada para atender principalmente uma demanda da cidade que precisava formar educadores. Então foram criados cursos de qualidade a preço acessível para boa parte da população. Em seguida foi criada a Faculdade de Engenharia do Triângulo Mineiro (FETM) para suprir a necessidade de profissionais da área de infra-estrutura, já que aqui na cidade não existia mais o curso de Engenharia Civil na Uniube. As duas faculdades se transformaram em CESUBE, com o intuito de fazer as faculdade mantidas pela FUMESU crescerem e terem um caráter comunitário e independente da prefeitura municipal. É bom que isso seja dito, pois o atual governo, que tanto fez para inviabilizar a instituição, já disse que não quer gastar com o CESUBE. Mas em vez de prosseguirem com a proposta das gestões anteriores, que era caminhar para a autonomia através da ampliação do CESUBE, preferiram apontar problemas e atrasar repasses que ainda são necessários para a instituição.




Vamos discutir os argumentos contra o CESUBE, que o prefeito usou nas últimas declarações.




1 - O CESUBE devia estar conversando com a UFTM para acenar alguma parceria.


- Questão prontamente respondida pelo Prof. Godoy. Não houve convocação oficial. E para quem não costuma cumprir nem o que está escrito, é mais difícil cumprir o que foi dito. Além disso, o CESUBE atende um aluno com perfil diferente do aluno da UFTM. E ainda que no futuro a UFTM atenda a demanda de formação de professores da cidade (o que é pouco provável à médio prazo) o CESUBE não pode morrer por inanição. Deixar de repassar verbas para a FUMESU porque não há diálogo com a UFTM, foi a pior desculpa já dada pelo prefeito para justificar seu descaso com o CESUBE desde sua posse.


2 - O foco da administração é no ensino do 1º grau.


- Está certo! É obrigação do prefeito focar sua administração no ensino fundamental, como prevê a constituição. Mas ele não leva em consideração o fato de que a carta maior também diz que o governo municipal deve, por obrigação, investir 25% de suas receitas próprias em educação. Este dinheiro, somado aos repasses do governo federal, garante verba suficiente para colocar todas as crianças na escola, e pode ser feito muito mais, caso o dinheiro seja bem administrado. Por isso, dizer que o dinheiro do CESUBE prejudica a qualidade do ensino fundamental é no mínimo leviano.


Reparem bem como o Prefeito já foi melhor para argumentar a respeito, embora isso não signifique que ele tenha sido bom nisso um dia. Existe um ditado que diz que "contra a força não há argumentos", e é nisso que ele sempre apostou. Errado não está o ditado. Errado está o prefeito que duvidou o tempo todo da força da comunidade acadêmica do CESUBE. E que ele não duvide mais uma vez.

sábado, 1 de dezembro de 2007

"Golpe em Uberaba"

Com certeza, muitos já receberam um e-mail com esse assunto. Ele fala sobre um golpe que vem acontecendo com frequência na cidade; uma pessoa finge estar atropelada na calçada e pede ajuda aos carros que passam, mas na verdade é um assaltante armado que pratica seqüestros relâmpago e furtos, já que quem a socorre a leva pra dentro do veículo. Por isso, a mensagem aconselha a quem ver algum atropelado que não o socorra pessoalmente e jamais o leve no carro, mas chame a polícia ou uma ambulância.
Sinceramente, nunca nem ouvi falar de alguma vítima desse golpe, mas não sei ainda o que é pior: socorrer um atropelado e ser assaltado, ou ser obrigado a negar ajuda para um suposto acidentado. Esse é um exemplo não de responsabilidade pública, pois não há órgão nem autoridade que possa regulamentar a honestidade dos cidadãos, mas nos leva a refletir a que ponto a insegurança que temos diariamente chegou.
O Estado é sim deficiente ao manter a segurança aos civis, pois o sistema penitenciário é precário, exemplo é a rebelião dos presos em Goiânia pela superlotação. Isso sem falar no sistema jurídico, se fossemos citar todos seus problemas, seria necessário dedicar muitos posts a ele. Porém, o que mais espanta é mesmo a criatividade dos assaltantes, como o caso que parece assolar nossa cidade, e as pessoas passam a ser vítimas de seu próprio ato de solidariedade, assim digamos.
Vivemos numa sociedade em que é perigoso ser honesto, pode nos trazer prejuízos se agirmos de boa fé. E isso porque dizem que o segredo de um mundo "mais feliz" está na capacidade das pessoas em serem solidárias e atentas aos próximos, principalmente em situações em que eles são realmente necessitados. E isso forma um paradoxo difícil de ser resolvido, pois já diz a comunidade que "Bonzinho só se fode". Estamos aprendendo a ser mais egoístas, a pensarmos apenas em nós, e os outros que se danem. E assim, cada um agindo de acordo com seus próprios interesses, forma-se o caos que vemos no dia-a-dia, e a desunião geral impossibilita que muitos problemas que só as pessoas possam sanar encontrem um fim.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

A cor do gato

Eu não poderia deixar de dar minha opinião acerca da entrevista do Prefeito Anderson Adauto ao Jornal da Manhã do último domingo. A propósito, muito boa a matéria da Faeza Rezende. Apesar da expectativa criada pelo jornal na semana anterior, o prefeito disse mais do mesmo. Mas nem por isso, podemos de comentar o que muito do que foi dito é importante ser ressaltado para avaliarmos o quadro político de Uberaba, às vésperas de uma eleição municipal.

Começando pelos comentários em relação à tranquilidade do Prefeito durante a entrevista, sendo inclusive comparado com o Lulinha Paz e Amor. Históricamente, quando vemos políticos calmos, podemos ter certeza: ou faz parte de sua índole ser comedido, ou ele está muito bem na fita. Anderson Adauto não é comedido. É um sujeito ríspido e mal educado. É incrível como alguém que está sendo processado por coisas tão graves pode estar tão bem na fita.

A repórter diz que mesmo calmo, Anderson Adauto erra o nome dos líderes chineses. Isso me fez lembrar de quando há 3 anos atrás ele citou o famoso aforismo de Deng Xiao Ping, atribuindo-o a "Mao Tsung" e não a Mao Tse-Tung. Pensei que nesse tempo alguém tenha o corrigido, até porque o seu "guru" José Alencar, é que gostava de citar essa frase para justificar sua (no mínimo estranha) aliança com Lula em 2002. Mas isso pouco importa. Não quero ser incoerente, pois sempre achei a perseguição da imprensa ao Lula e ao próprio Anderson pelo seu erros de português ridícula, pois a esse tipo de erro todos nós estamos sujeitos a cometer e seus atos enquanto governantes são mais importantes que isso. A frase de Deng Xiao Ping em questão é: "Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato".

Mas mais importante que saber quem foi o autor da frase, importa saber se o gato (governo) está caçando o rato (os problemas de nossa cidade) como o prefeito sugeriu. Em todas as declarações do prefeito quando este ainda estava em campanha, ele dizia que faria um governo democrático, transparente e participativo. Mas seu governo é ruim e nada democrático. Se eu fosse enumerar os arroubos de autoritarismo do prefeito, ficaria muito tempo escrevendo coisas que todos estão cansados de saber. Afinal, ele mesmo admite alguns, como aquele ato patético de tentar ele próprio furar o pneu de uma carroça para "educar" um carroceiro.

Mas como não pode deixar de ser, todo mandatário aqui no Brasil ao tomar posse já pensa na reeleição. E que ninguém tenha dúvidas de que com o atual prefeito seja diferente dos outros. Chamando seus oposicionistas para colocarem a cara para bater, é sinal de que ele está pronto para o enfrentamento. Pode ser que tenhamos nova campanha de nível de discussão baixíssimo. E os gatos preocupados com outras coisas, vão deixar o rato solto e procriando.

sábado, 24 de novembro de 2007

Plantio de árvores na cidade

Há algum tempo, que precisamente não sei mas deve ser em torno de poucos meses atrás, começaram a aparecer funcionários da prefeitura cavando buracos pelo passeio da cidade, até próximos um do outro. Assim olhando, não cheguei a imaginar do que se tratava, e só agora, nesta semana, que soube que era o novo projeto da prefeitura de Uberaba: arborizar a cidade. Assim, visualmente a cidade ficaria mais bonita, e os vegetais também trazem maior bem-estar aos habitantes, inclusive porque algumas mudas são de árvores frutíferas.
O projeto é interessante, pois é sempre válida qualquer intenção de caráter ambiental e que venha a ressaltar a importância da natureza. O que há de estranho na iniciativa é a meta astronômica de serem plantadas 1.000.000 (isso, um milhão!) de árvores pela cidade. O próprio prefeito está visitando os bairros e plantando pessoalmente algumas mudas, e diz contar com a ajuda da população para manter os vegetais aguados e adubados. Porém, tomara que o projeto não alcance seu total objetivo, ou se não Uberaba vai virar floresta.
Fato é que não há área de calçamento suficiente na cidade para abrigar um milhão de árvores. E 300.000, que é o número inicial proposto pela prefeitura, já vai além das expectativas. Basta um raciocínio simples. Uberaba tem em torno de 300.000 habitantes, que não moram cada um em uma casa diferente, ou sejá, há menos de 300.000 residências na cidade. Mesmo se for plantada uma muda em frente a cada casa, o máximo que teremos seria cerca de 200.000 novas árvores. São números usados levianamente, não passam de propaganda política para a eleição municipal que se aproxima. E, infelizmente, muita gente é enganada com tais "estatísticas".
Sempre que vejo esses projetos estrondosos logo nas proximidades das eleições, me lembro da Univerdecidade, que está abandonada e entregue às práticas criminosas. Foram prometidas tantas obras no local, como escola, hospital, centro de lazer... e nada saiu do papel. Os uberabenses até freqüetavam o lugar na época, mas hoje parecem ter esquecido de lá. Temos apenas que tomar cuidado sempre quando surgem iniciativas como essa da atual gestão na cidade, porque ainda tem gente que acredita...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tributos - CPMF (Parte II)

No artigo anterior falei da necessidade de o Brasil criar uma reforma tributária para que seja possível diminuir impostos e que estes sejam cobrados de forma mais justa.

Em relação a esta questão, o assunto mais debatido ultimamente é a CPMF, imposto que de acordo com a constituição só será cobrado até 31 de Dezembro deste ano. O governo luta para que este prazo seja prorrogado, alegando que não pode executar todos os programas e pagar dívidas sem o dinheiro que vem da “Contribuição Provisória”.

A oposição e o chamado setor produtivo querem acabar de vez com a CPMF alegando que o brasileiro não pode pagar tantos impostos, e ainda faz algumas críticas ao imposto que vou expor em seguida. Que pagamos impostos demais, é fato. Mas será que os outros impostos que existem não merecem as mesmas críticas, ou ainda críticas mais contundentes que as que são feitas pela CPMF? Por que não aproveitam a discussão para pensar em um outro modelo de tributação para o nosso país?

Uma coisa é criticar a CPMF em função da forma como ela foi criada, de toda a articulação política que foi feita uma vez e está novamente sendo feita para a prorrogação da mesma. Outra coisa é fazer críticas ao imposto, tendo outros que são bem mais nocivos à economia brasileira. Os críticos que a CPMF causa impacto direto sobre as taxas de juros. Mas outros impostos que incidem sobre operações financeiras também. O IOF é um exemplo disso. A CPMF tem um impacto maior sobre o salário das pessoas mais pobres. Isso é um fator óbvio já que a alíquota é igual para todos. Esta distorção pode ser sanada perfeitamente com o imposto de renda de caráter realmente progressivo e a criação de um imposto sobre valor agregado menos complexo que os atuais. Sem falar no baixo custo administrativo e na baixa complexidade legal e na própria natureza do imposto que ajuda na fiscalização e não produz efeito cascata tão grande quanto outros impostos que são mais altos e passíveis de sonegação, como o IPI e o ICMS. E por falar em sonegação, por que a classe média que tanto sonega impostos não é contra este outros impostos citados?

É fato que a CPMF foi criada para ser provisória e que pagamos impostos demais. Mas o modelo de tributação no Brasil é todo ruim. Por isso, deveria haver uma discussão sobre um modelo novo que seja mais justo e transpararente, no qual todos possam pagar aquilo que realmente tem condições, e ao mesmo tempo, evite a sonegação daqueles que tem condições e deveriam contribuir.

sábado, 17 de novembro de 2007

Manifesto contra a UFTM

Semana passada, esteve estampado nos principais jornais da cidade o manifesto elaborado pelas escolas particulares de Ensino Médio da cidade, exprimindo revolta contra o vestibular da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. O foco foi mostrar que na universidade, especialmente no curso de Medicina, predominam estudantes de fora, e há poucas aprovações de uberabenses. Os argumentos foram convincentes, e se o objetivo era esculachar a Vunesp, que elabora a prova, este foi alcançado. É comprovado que ela usa de um banco de questões não contextualizadas e não regionalizadas, fato que acontece em qualquer outra vestibular. Não existem as típicas questõezinhas que exploram o aspecto físico ou econômico de nossa região, o que poderia beneficiar os vestibulandos do Triângulo. Além do mais, as escolas ficam à mercê da data escolhida para o exame, pois a UFTM espera saber de todos os outros vestibulares para que não coincida com a data da prova, a fim de aumentar o número de alunos inscritos. Ou seja, prevalece o interesse financeiro, como sempre. O que mais chamou a atenção no manifesto foi o relato sobre uma menina de Votuporanga, que foi aprovada em Medicina, mas continua fazendo cursinho em sua cidade e segura sua vaga aqui através de atestados médicos. E muitas outras críticas ainda são feitas, como em relação ao método de correção de redações e do fato de se poder realizar a prova em outras cidades como São Paulo e Belo Horizonte.

Seriam coisas que só acontecem em Uberaba? Sinceramente, possa ser que a imprensa omita esse tipo de acontecimentos, mas nunca ouvi nem falar de algo parecido em outros lugares. Como, por exemplo, professores de BH revoltados com o vestibular da UFMG ou os de São Paulo querendo mudanças na FUVEST. Isso nos leva a pensar até que ponto as escolas particulares estão interessadas no sucesso dos alunos ou nas aprovações que servem de propaganda para atrair novas matrículas. Os colégios argumentam estarem unidos pela justiça com os vestibulandos uberabenses, mas é lógico que por trás da cortina de responsabilidade social que o manifesto tem prevalece o interesse individual de cada instituição. O interesse é de transformar um aluno, um ser humano, num símbolo de vitória na competição injusta que é o vestibular.

Comparações à parte, porém sabe-se que nos países desenvolvidos existem métodos mais sensatos na seleção dos alunos para as universidades, métodos estes que incluem o desempenho ao longo da carreira escolar e testes de aptidão pessoal. Quem consegue passar no vestibular tem sim seu mérito de esforço e competência, entretanto não será necessariamente um bom profissional da área que escolheu. Aliás, a escolha ocorre muito precocemente, pois a idade do fim do Ensino Médio é muito pouca para decidir a profissão, e muitos jovens chegam a não ter maturidade para se conscientizarem das mudanças que vêm pela frente.

Além do método injusto de seleção, e o fato da pouca idade dos vestibulandos, o teste em si é altamente excludente. Se as escolas particulares se preocupam com as poucas aprovações de seus estudantes, o que resta aos alunos de escolas públicas? Escolas estas que muitas vezes não possuem infra-estrutura adequada, que fazem muitas greves ao ano prejudicando as aulas, e o pior, cujos professores mal remunerados raramente estão devidamente engajados em ensinar. Soma-se a isso o preço inacessível do vestibular das faculdades públicas, mais uma barreira a enfrentar. É complicado idealizar um futuro melhor para um país onde o sistema para ingressar numa universidade federal ou estadual é tão deficitário e caduco. E o pior é que para muitos a única saída é a educação...

*Raysa Pacheco é estudante e integrante da comissão de juventude da Contra Corrente.Atualiza o blog todos os sábados.

sábado, 10 de novembro de 2007

Legalização do comércio de drogas

Vivemos um contexto cultural em que filmes, novelas, livros que tratam de temas como a favela e o tráfico de drogas está em evidência. Isso desperta uma reflexão sobre o domínio político que os traficantes exercem no país, e também sobre a legalização do comércio de drogas, algo que pessoalmente sou a favor.

É lamentável saber que em um país rico em recursos naturais como o Brasil existem comunidades cuja principal atividade econômica é o tráfico de drogas atrelado à corrupção de diversas instituições. E é esse o principal responsável pela violência e crimes principalmente nas grandes cidades brasileiras, onde uma guerra urbana diária está instaurada e as autoridades não estão devidamente empenhadas em resolver o problema. Prova disso foi o depoimento mais ingênuo impossível do secretário de segurança do Rio de Janeiro; de acordo com ele, a violência no estado se atenua a partir do momento em que se desarmam os traficantes na favela, e o governo está empenhado nisso. É uma utopia achar que os policias conseguem ter uma ação efetiva a ponto de promover o desarmamento nos morros, pois em muitos casos são eles próprios os fornecedores das armas.

A legalização da venda de drogas acabaria com muitos transtornos que o tráfico gera, pois o comércio, mesmo que realizado nas favelas, seria permitido e não haveria necessidade de grupos armados para garantir a chegada e distribuição dos entorpecentes. Não haveria necessidade de envolver crianças que se encarregam de avisar da chegada de policiais, ou mesmo da entrega das drogas. Fato é que o esquema de violência e corrupção dos morros brasileiros pode até continuar, porém por outros motivos que não sejam ligados às drogas. E esses outros motivos são bem menos complexos e em menor frequência.

Porém, sempre que se levanta a questão da legalização das drogas, surge um grupo moralista defendendo a saúde geral da população, que questiona: "como se pode vender abertamente uma substância tóxica, que causa dependência e pode levar à morte?". Acontece que todos os usuários de drogas têm a consciência do mal que lhes é causado, pois se existe um setor na sociedade que é eficiente é o de campanhas, como a da dengue, como a do "Diga não às drogas". Portanto, quem compra sabe as consequências que sofrerá. E não se pode continuar com essa visão individualista que olha o lado usuário, mas sim considerar as vantagens que a ação trará para a sociedade como um todo. E há outros tipos de subtâncias igualmente tóxicas circulando livremente no mercado, como o cigarro e remédios antidepressivos que atuam como verdadeiros entorpecentes. E ninguém fala nada. Comparações são difíceis e delicadas de serem feitas, mas na Europa existem países em que a droga é legalizada, e isso não foi motivo para atrasar as atividades econômicas ou seu desenvolvimento. Enquanto a mentalidade falsamente puritana ainda dominar o país, o caos da violência permanecerá.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Tributos - Busca por justiça (parte I)

Nos países desenvolvidos que possuem o mínimo de organização e altos índices de desenvolvimento humano, prevalecem dois modelos. Um é o que o Estado é o responsável principal pela execução dos serviços públicos. As pessoas pagam uma quantidade considerável de impostos, mas há engajamento da sociedade civil e transparência dos governantes nos gastos. Entre os países que adotam esse sistema, podemos citar os países da Escandinávia.

O outro, é o Estado que intervém pouco nas liberdades individuais, cobra poucos impostos, deixa o mercado se auto-regular e os serviços públicos são retirados do Estado e passam a ser cada vez mais de responsabilidade da iniciativa privada. Os serviços são fiscalizados pelo Estado e por organizações não-governamentais. Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia são exemplos de países que tiveram sucesso com o sistema de intervenção mínima do Estado na vida dos cidadãos.

O Brasil, que está longe de ser um país organizado e seu índice de desenvolvimento humano é muito baixo. Nosso país possui o que tem de pior nos dois modelos. Os serviços prestados pelo Estado não são bons. As pessoas têm que recorrer muitas vezes à iniciativa privada para obter saúde, educação e até segurança de qualidade. A sociedade civil ainda não possui capacidade de se mobilizar para fiscalizar os serviços públicos e os governos na maior parte das vezes não são transparentes. Tudo isso, pagando uma das maiores cargas tributárias do mundo. E a carga não é só alta, mas também é injusta. Já houve várias tentativas de mudança nessa tributação. Mas durante anos, oposições e lideranças locais irresponsáveis, “coronéis” e lobistas, somados com o pouco interesse da sociedade civil no assunto durante muito tempo, a forma com que o Estado adquire receita se tornou cada vez mais complexa e difícil de fiscalizar, sendo fator importante na manutenção das desigualdades sociais e regionais presentes no nosso país.

Uma reforma tributária ampla precisa ser colocada na ordem do dia dos movimentos sociais, que estão paralisados e discutindo pouco o que é realmente importante. Passou da hora do Brasil simplificar o seu sistema tributário, através da diminuição de alguns tipos de impostos, ainda que não signifique necessariamente a queda do valor pago, embora eu pessoalmente seja a favor disso. Mas devemos pensar que se quisermos fazer deste país um país organizado, devemos escolher um dos modelos citados acima. Neste aspecto, mais que na redução dos impostos, é preciso pensar se eles são cobrados de forma justa, proporcional à renda do cidadão, e que seja mais simples de ser fiscalizado. Já se debateu em campanhas presidenciais anteriores a adoção de um sistema de cinco impostos e até de um imposto único, que seria cobrado dos moldes da CPMF. Mas acabam as eleições e as coisas ficam do jeito que estão. Até quando?

Semana que vem, leia a parte II - CPMF

domingo, 4 de novembro de 2007

Tropa de Elite: Uma Reflexão urgente e necessária.

Conversando com um amigo, com título de doutor e professor- que omitirei o nome para preservar sua liberdade de expressão, que comentava sobre o filme Tropa de Elite, me causou um certo espanto, e que deixo aqui para uma reflexão. Ele relatou cena por por cena do filme e concluiu que a culpa é única e exclusiva do governo, e pasmem: chegou a mais das santas revelações, de que os homens estão pagando pelos seus erros por terem se afastado de Deus. Realmente, na dúvida ou para eximir nossas responsabilidades nada melhor do que colocar Deus na jogada. ( É aqui que me preocupo com nossa educação).


Mas, vejamos alguns pontos do filme, que é dirigido por José Padilha, onde percebemos claramente que o enfoque da realidade brasileira encontra-se no tráfico e crime, e que eles fazem parte do sistema por, estarem ligados entre si, na mais profunda deterioração e degradação da vida social, ou melhor humana.


Encontramos no filme, os morros e a cidade do Rio de Janeiro, em uma visão realista do não compromisso pessoal e social brasileiro, onde, consumo, desejos, linguagem e os comportamentos, apontam a distancia social entre os personagens, na disparidade de renda, educação e até mesmo as oportunidades entre aqueles mundos que se entrelaçam e se perdem entre a ética e a perspectiva de futuro.


Percebe-se também, o ambiente de abandono dos morros da cidade, fazendo com que a ONG- que tudo leva a crer, é bem intencionada- lembremos do dito popular, que de boas intenções o inferno esta cheio, assuma o papel do poder público. Temos os jovens Universitários de Direito, representando a classe média, burgueses- e, é aqui, que entendi do porque da OAB reprovarem mais 80% na prova da Ordem em todo país, que eles, neste espaço, compartilham as drogas e a pobreza. Clássica divisão social, onde elas não se comunicam, se rejeitam. Mas, que naquele instante, eles se fundem em um único sentimento, o desejo do consumo, da sobrevivência, eximindo-se das responsabilidades e do compromisso social, culpando quase sempre o Estado, que no caso seria a policia.


Outro ponto a ser levantado é quanto da “excessiva” violência que o filme apresenta – coloquei entre aspas para não chocar os elitistas, que irão proclamar que naquele lugar também existem pessoas boas, comprometidas. Portanto, a violência está latente, e, é o cerne da ferida, e na sua periferia, produz a exclusão, a miséria, a falta de perspectivas, levando a uma fragmentação social que acaba refletindo em todo o corpo, seus efeitos maléficos, onde, traficantes, universitários e os politico, apodrecem como pústulas, através das impossibilidades de ações salutares. Assim, como exemplo, os membros da elite da tropa que deveriam propor ações positivas, se mostram truculentos e fascistas, evidenciando o não compromisso social, onde todos estão unidos (sociedade e Estado) na falta de perspectivas, em não querer reverter esta situação.


Volto a proposta de fazermos uma reflexão urgente sobre o filme e a sociedade em que vivemos. Sabemos que os paradigmas que ficam, mesmo em toda nossa fragilidade humana, por ficarmos e morrermos dentro de um contexto histórico, são as obras que realizamos, os valores que carregamos, eles sim, irá sub existir e perdurar. E não acreditar como disse Hobbs, “ que o homem é o lobo do homem”. Perderíamos nossa essência humana.


O que proponho é sermos ousados, e que façamos tais discussões com nossos amigos, família, e em todos os lugares que formos, para que, quem sabe- não mudarmos a realidade social que ai está, mas que possamos despertar consciência critica, sermos multiplicadores das ideias, ai sim, estaríamos levando a sementeira de um futuro melhor. E foi aqui que me lembrei de uma frase de Vitor Hugo em uma carta aos brasileiros quando estava na prisão na ilha de Guernesey: “Desde que existe a historia, duas classes de homens dirigem a humanidade: os opressores e os libertadores. Aqueles dominam pelo mal, estes, pelo bem. Mas de todos os libertadores, o pensador, o intelectual, é o mais eficaz. O espírito fere de morte o mal. Os pensadores emancipam o gênero humano. Sofrem, mas triunfam. E é pelo sacrifico que eles, não raro, alcançam a redenção dos outros. Podem sucumbir no exílio, no cárcere ou no patíbulo. O seu ideal lhes sobrevive; e, mesmo depois de sua morte, continua a tarefa libertadora que eles encetaram em vida”.


Por isso, que me assombro quando me deparo com falsos pensadores, que não tem nada a oferecer, omitindo-se em uma questão tão grave, que é a miséria humana. Colocar responsabilidades em um Estado do qual somos sua força é comodismo, alienação. Dizer que Deus se afastou???? Diria que, ele esta de férias, aproveitando o verão, ou quem sabe criando mais um sistema solar ou buraco negro, vai saber! Mas, façamos o necessário para propagar uma discussão inteligente e construir propostas de soluções, pois é hora de posicionarmos.

*Evandro Souza atualiza o blog todas as terças-feiras

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Corrupção Banalizada

Um dos assuntos mais comentados na atualidade é o filme Tropa de Elite, que denuncia as ações corruptas da PM junto ao tráfico nos morros cariocas e as atitudes desumanas e sangrentas do BOPE. O comentário geral das pessoas é que aquilo é um absurdo, que o governo é alheio à situação, que o país é um caos. Mas sou obrigada a concordar com o tão mencionado Capitão Nascimento, que acusa o estudante universitário como o grande culpado de todo o caos causado pelo tráfico, afinal ele é usuário. A realidade que o filme explora é conseqüência das ações da sociedade em que vivemos, onde os interesses individuais prevalecem e a maioria está alienada ao que se passa.

A parte que mais despertou minha atenção nem foram as que envolveram as ações dos policiais, mas sim quando mostram a universidade pública, tomada por estudantes de classe média que são os que tiveram base para nela ingressarem. Todos falsos moralistas, que atuavam numa ONG mas eram usuários e traficantes de drogas, além de serem totalmente alheios à situação real da favela, mas achavam que ajudando os pobres eram pessoas melhores. Este é um dos maiores problemas da sociedade; as pessoas fazem pequenas (ou grandes) corrupções no dia-a-dia, como praticar “gatos” para ter TV a cabo ou participar do jogo do bicho, mas doam algumas roupas para a campanha do amor e se julgam cidadãos exemplares. A sociedade num geral é também muito hipócrita e falsa moralista, enche a boca pra criticar o governo e a Polícia Militar porém não age corretamente. Não existem pessoas perfeitas no mundo, mas não se pode fechar os olhos para sua realidade e querer criticar apenas as favelas do Rio de Janeiro, a violência de São Paulo.

A corrupção hoje é um dos maiores problemas do Brasil, se não for o pior, pois ele desencadeia outra série de fatores como a concentração de renda, a saúde pública precária e a educação de nível insatisfatório. Mas não será mudando os políticos que a situação mudará; enquanto uma sociedade com valores corruptos ainda existir, sejam eles os mais corriqueiros do dia-a-dia, ela não terá o total direito de se limitar a criticar tudo o que quer. Por isso é necessária uma análise mais sensata e menos vã desses tipos de assuntos como o abordado pelo filme Tropa de Elite.

Além dos muitos discursos inflamados que se ouve diariamente sobre o filme em questão, ainda somos obrigados a assistir a uma apologia equivocada à coorporação do BOPE. Acontece que no Brasil tudo vira piada e gozação, mesmo os assuntos mais sérios. Comunidades no orkut se proliferam com muita rapidez, aclamando o personagem de Vagner Moura como o herói nacional, e fazendo brincadeira como a tortura de colocar um saco plástico na cabeça da pessoa até que ela solte a informação desejada. E esses, que fazem apologias no orkut, são os mesmos criticados pelo filme; pessoas de classe predominantemente média, que vivem isoladas em suas vidinhas confortáveis e alheias à realidade dos favelados. Favelados estes cujo maior medo é esse mesmo personagem que os outros julgam ser o herói nacional, mas que estão excluídos do mundo digital e não tem acesso a essas comunidades da internet. E nem se sabe quando elas terão. O fato é que a corrupção está banalizada em diversos setores da sociedade, e somente com a ação conjunta de diversas instituições e dos brasileiros que algo poderá ser feito.

*Raysa Pacheco é estudante e integrante da comissão de juventude da Contra Corrente.
Atualiza o blog todos os sábados.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Sobre a legalização da prostituição

O Deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que luta pela legalização da prostituição no Brasil, vem buscando discutir o projeto livre do moralismo existente do parlamento e na imprensa. Tarefa árdua, diga-se de passagem. Os argumentos contrários ao projeto, embora sejam bizarros, são compartilhados por uma parcela grande da população. O teólogo Pastor Sergio Santelli disse: "Assim como o povo de Israel foi grandemente seduzido pela luxúria exatamente antes de entrar na Terra Prometida, assim também os cristãos remanescentes (Israel espiritual), justamente agora antes da volta de Cristo (de receber a recompensa), estão sendo bombardeados com as várias formas de comportamento imoral provenientes do paganismo."

O comportamento que o teólogo chama de imoral e proveniente do paganismo já existe desde que o mundo é mundo. E se existe até hoje, é porque há quem pague por este comportamento. Em sociedades onde trocas de mercadorias e serviços sempre foram necessárias para a sobrevivência do ser humano. O sexo é considerado um destes serviços. Na nossa civilização, predominantemente cristã, a profissão não é bem vista pela sociedade. As prostitutas então fazem seu trabalho para o seu sustento (mais recentemente para que meninas de classe média sustentem um padrão de vida que a própria sociedade condiciona todos a conseguir). Muitas até tem vontade de deixar a profissão, mas não existe nenhuma rede de proteção social para estas mulheres.

Determinados grupos religiosos, especialmente aqueles que fazem lobby no congresso nacional, se preocupam mais em julgar os atos das profissionais do sexo do que realmente fazer algo pelas pessoas. Esses grupos muitas vezes fazem parte dos esquemas de corrupção e contribuem para o patrimonialismo estatal. Consequentemente, são responsáveis para que cada vez mais mulheres escolham a prostituição como meio de vida, se submetendo à violência, ameaças e riscos de doenças. Afinal, será estas pessoas que se julgam guardiãs da moral crêem que é justo que um ser humano seja vilipendiado por cafetões e policiais no momento de trabalho e ainda oferecer parte do que ganha com seu serviço para corruptos? Será que esta corja que quer que o Estado diga o que cada cidadão deve fazer, deseja que as prostitutas continuem sendo obrigadas a se sujeitar a clientes que obrigam-nas a ter relações sexuais sem preservativo, quando poderiam ter um sistema de proteção semelhante ao que acontece na Holanda?

A consolidação do Estado laico aqui no Brasil está longe de ser uma realidade se o congresso nacional continuar a mercê de grupos reacionários e religiosos. Pessoas conservadoras, lamentavelmente continuam querendo impôr em nosso país suas culturas através de leis. O que é óbvio, já que a maioria das igrejas são instituições autoritárias, e como toda instituição autoritária, quer que suas idéias sejam seguidas por toda a população buscando uma falsa legitimidade no poder constituído. Já é momento de pensarmos em um país verdadeiramente justo. A igreja, a família e a comunidade são importantes na formação moral de uma pessoa, mas isso não significa que interferência do Estado possa ir além dos atentados aos direitos humanos e às liberdades individuais.
*Gabriel Mendes é sociólogo e vice-presidente da Contra Corrente. Atualiza o blog todas as quintas-feiras.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A queimada da cana e seu impacto socioambiental*

por Evandro de Souza e João Edson Pacheco
O sistema climático é um sistema complexo, sendo ele regulado pela atmosfera, mas também pelo que ocorre nos oceanos, na criosfera (capa glacial, gelo marinho e neve), na geosfera (superfície da terra), na hidrosfera(oceanos, lagos, rios) e na biosfera (conjunto de seres vivos).

A composição atmosférica atual é fundamental para a sobrevivência na terra. Por meio de ciclos naturais, os constituintes são consumidos e reciclados. As ações antropogênicas (conjunto de transformações que levaram, na evolução animal, ao surgimento do homem na superfície da terra) vêm provocando desequilíbrios neste sistema, conduzindo à acumulação, na atmosfera, de substâncias nocivas ao próprio homem e ao meio ambiente.

A inconseqüência no uso do fogo nas atividades agrárias, vem sendo utilizada desde o inicio da colonização. Com a febre da monocultura da cana, a prática de queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação, ocorriam as queimas da palha da cana, para facilitar a colheita. por conta do proálcool (1975), a cultura canavieira avançou com voracidade sobre o campo, assim aumentando a pratica da queima, que por sua vez provoca um uso maior de agrotóxicos e herbicidas, afetando os micro organismos do solo e contaminando o lençol freático e os mananciais.

Tais queimadas causam a liberação para a atmosfera de ozônio, grandes concentrações de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), que afetam a saúde dos seres vivos, reduzindo também as atividades fotossintéticas dos vegetais, contribuindo assim para o efeito estufa gerando uma reação em cadeia com o sistema climático, denominado aquecimento global.
As queimadas existem apenas para reduzir os custos do setor sucro-alcooleiro com a colheita da cana de açúcar, pois como sabemos o rendimento do trabalhador cortador de cana ou da colheitadeira é triplicado quando a palha é queimada. Contudo, deveríamos tomar como exemplo Cuba que a partir da década de 70, iniciou a mecanização das colheitas da cana-de-açúcar, abandonando lentamente o uso do fogo nos canaviais, eliminando totalmente essa prática nos dias atuais. Método semelhante adotou as Filipinas, com associação de outras culturas no meio dos canaviais, sendo que a palha seca da cana é utilizada como adubo orgânico. No caso de Uberaba já poderia ser implantado imediatamente, pois já observamos riscos para a sociedade e para o meio ambiente.

Nas palavras de Gilberto Freire faço um alerta a população “ O canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana valorizou o canavial tornou desprezível a mata.”

E sendo assim nossa cidade irá se transformar em um nordeste mineiro, onde terras produtivas se transformará em terras áridas.

O alerta é para que as autoridades e a sociedade em geral tenham consciência dessa desastrosa atividade canavieira. Não devemos esperar que nosso legislativo não atenda o clamor da sociedade.

Vivemos em uma sociedade falida de princípios morais e éticos, onde nossos representantes reafirmam que o poder é a manipulação das massas.

Com tudo isso, nosso grito é para que o poder legislativo abra uma ampla discussão com a sociedade e que não aceitem uma determinação vertical do executivo, promovendo uma audiência pública com todas as entidades de classe, sindicatos, ong´s, universitários, entidades religiosas dentre outros. Somente assim iremos exercer nossa cidadania e o compromisso democrático.

Evandro Souza é sociólogo e presidente da Contra Corrente
João Edson Pacheco é professor de filosofia e conselheiro da Contra Corrente.
* Texto que originou matéria que foi publicada no Jornal de Uberaba no dia 22/10/2007

domingo, 28 de outubro de 2007

Manifesto de Fundação da Contra Corrente

A Contra Corrente é uma organização independente e autônoma, fundada em outubro de 2007 por um grupo de amigos, comprometidos na defesa do interesse público e o incentivo ao exercício da cidadania.

A necessidade de uma organização como a Contra Corrente pode ser bem compreendida pelas características do país e de nossa cidade, quanto aos atos de nossos governantes.

Uberaba possui uma população de quase 300 mil habitantes, e as mudanças políticas, sociais e econômicas que o país atravessou, refletem também por aqui. É preciso acompanhar nossos representantes e fiscalizar a aplicação dos recursos oriundos dos impostos pagos pela população.

Esta fiscalização juntos aos órgãos públicos requer efetiva participação da sociedade. Ainda que reze na Constituição que devemos ter eleições livres, um Congresso e um Judiciário independentes e as demais garantias constitucionais típicas das democracias representativas, sabemos que as práticas do mundo real nem sempre refletem nas estruturas formais.

Para que a sociedade uberabense não fique a mercê de grupos políticos que visem em preservar seus próprios interesses temos como objetivos:
1- Estabelecer parcerias com outras entidades públicas ou privadas, colaborando com atuação desses órgãos e da sociedade civil na defesa da cidadania;
2- Propor políticas públicas que vão de encontro ao interesse da população;
3- Apoiar e dar suporte técnico e jurídico a pessoas, grupos, movimentos e organizações que tenham os mesmos objetivos da "Contra Corrente";
4- Organizar, divulgar e executar projetos de políticas sociais e de combate a irregularidades em instituições públicas;
5- Promover palestras, debates e encontros;
6- Ajudar órgãos e entidades no planejamento, mobilização de recursos e implantação de projetos de interesse público;
7- Promover a criação de uma cultura de prestigio da ética, honestidade e responsabilidade social, elaborando publicações, buscando espaços nos meios de comunicação por intermédio de campanhas, artigos, matérias e programas que estimulem o exercício da cidadania;
8- Desenvolver outras atividades necessárias aos cumprimentos das finalidades da Contra Corrente.

Tais dispositivos são necessários por entendermos que existe uma ineficiência dos controles sociais, por termos uma estrutura que conferiu autonomia ao estado e aos municípios dando total independência na formulação de regulamentos e na adoção de praticas administrativas.

Essa autonomia vem causando uma disparidade nos terrenos social e econômico levando a criação de instrumentos que dispõe a combater a corrupção e a fortalecer a cidadania, por não termos uma transparência que corresponda a realidade presentes no Executivo, Legislativo, Judiciário e o próprio Ministério Público, sabemos que a lei vale pouco e que na prática ela é inacessível para a grande maioria da população.

Temos consciência de que esta luta é árdua e que setores patrimonialistas e elitistas vão tentar impedir a mobilização da prática cidadã, pois só ela é capaz de fazer com que estes setores tenham respeito com o povo e com o seu dinheiro. Nem por isso vamos desistir. Vamos à luta, ainda que seja para nadar "contra a corrente".

Uberaba, 07 de Outubro de 2007.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Ata da Reunião com o então prefeito eleito Anderson Adauto

Clique nas imagens para ampliá-las