domingo, 4 de novembro de 2007

Tropa de Elite: Uma Reflexão urgente e necessária.

Conversando com um amigo, com título de doutor e professor- que omitirei o nome para preservar sua liberdade de expressão, que comentava sobre o filme Tropa de Elite, me causou um certo espanto, e que deixo aqui para uma reflexão. Ele relatou cena por por cena do filme e concluiu que a culpa é única e exclusiva do governo, e pasmem: chegou a mais das santas revelações, de que os homens estão pagando pelos seus erros por terem se afastado de Deus. Realmente, na dúvida ou para eximir nossas responsabilidades nada melhor do que colocar Deus na jogada. ( É aqui que me preocupo com nossa educação).


Mas, vejamos alguns pontos do filme, que é dirigido por José Padilha, onde percebemos claramente que o enfoque da realidade brasileira encontra-se no tráfico e crime, e que eles fazem parte do sistema por, estarem ligados entre si, na mais profunda deterioração e degradação da vida social, ou melhor humana.


Encontramos no filme, os morros e a cidade do Rio de Janeiro, em uma visão realista do não compromisso pessoal e social brasileiro, onde, consumo, desejos, linguagem e os comportamentos, apontam a distancia social entre os personagens, na disparidade de renda, educação e até mesmo as oportunidades entre aqueles mundos que se entrelaçam e se perdem entre a ética e a perspectiva de futuro.


Percebe-se também, o ambiente de abandono dos morros da cidade, fazendo com que a ONG- que tudo leva a crer, é bem intencionada- lembremos do dito popular, que de boas intenções o inferno esta cheio, assuma o papel do poder público. Temos os jovens Universitários de Direito, representando a classe média, burgueses- e, é aqui, que entendi do porque da OAB reprovarem mais 80% na prova da Ordem em todo país, que eles, neste espaço, compartilham as drogas e a pobreza. Clássica divisão social, onde elas não se comunicam, se rejeitam. Mas, que naquele instante, eles se fundem em um único sentimento, o desejo do consumo, da sobrevivência, eximindo-se das responsabilidades e do compromisso social, culpando quase sempre o Estado, que no caso seria a policia.


Outro ponto a ser levantado é quanto da “excessiva” violência que o filme apresenta – coloquei entre aspas para não chocar os elitistas, que irão proclamar que naquele lugar também existem pessoas boas, comprometidas. Portanto, a violência está latente, e, é o cerne da ferida, e na sua periferia, produz a exclusão, a miséria, a falta de perspectivas, levando a uma fragmentação social que acaba refletindo em todo o corpo, seus efeitos maléficos, onde, traficantes, universitários e os politico, apodrecem como pústulas, através das impossibilidades de ações salutares. Assim, como exemplo, os membros da elite da tropa que deveriam propor ações positivas, se mostram truculentos e fascistas, evidenciando o não compromisso social, onde todos estão unidos (sociedade e Estado) na falta de perspectivas, em não querer reverter esta situação.


Volto a proposta de fazermos uma reflexão urgente sobre o filme e a sociedade em que vivemos. Sabemos que os paradigmas que ficam, mesmo em toda nossa fragilidade humana, por ficarmos e morrermos dentro de um contexto histórico, são as obras que realizamos, os valores que carregamos, eles sim, irá sub existir e perdurar. E não acreditar como disse Hobbs, “ que o homem é o lobo do homem”. Perderíamos nossa essência humana.


O que proponho é sermos ousados, e que façamos tais discussões com nossos amigos, família, e em todos os lugares que formos, para que, quem sabe- não mudarmos a realidade social que ai está, mas que possamos despertar consciência critica, sermos multiplicadores das ideias, ai sim, estaríamos levando a sementeira de um futuro melhor. E foi aqui que me lembrei de uma frase de Vitor Hugo em uma carta aos brasileiros quando estava na prisão na ilha de Guernesey: “Desde que existe a historia, duas classes de homens dirigem a humanidade: os opressores e os libertadores. Aqueles dominam pelo mal, estes, pelo bem. Mas de todos os libertadores, o pensador, o intelectual, é o mais eficaz. O espírito fere de morte o mal. Os pensadores emancipam o gênero humano. Sofrem, mas triunfam. E é pelo sacrifico que eles, não raro, alcançam a redenção dos outros. Podem sucumbir no exílio, no cárcere ou no patíbulo. O seu ideal lhes sobrevive; e, mesmo depois de sua morte, continua a tarefa libertadora que eles encetaram em vida”.


Por isso, que me assombro quando me deparo com falsos pensadores, que não tem nada a oferecer, omitindo-se em uma questão tão grave, que é a miséria humana. Colocar responsabilidades em um Estado do qual somos sua força é comodismo, alienação. Dizer que Deus se afastou???? Diria que, ele esta de férias, aproveitando o verão, ou quem sabe criando mais um sistema solar ou buraco negro, vai saber! Mas, façamos o necessário para propagar uma discussão inteligente e construir propostas de soluções, pois é hora de posicionarmos.

*Evandro Souza atualiza o blog todas as terças-feiras

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