quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Anderson Adauto e a imprensa

No "balanço" do governo realizado ontem pelo prefeito Anderson Adauto (PMDB) na Câmara Municipal, a única pergunta realmente relevante feita por um vereador (visto que a maioria ficou mesmo na puxação de saco) foi feita por Itamar Ribeiro (DEM) que questionou se os jornalistas que falam bem da administração recebem dinheiro, já que o prefeito disse anteriormente que "há jornalistas que não recebem dinheiro da prefeitura ou das empresas e ficam metendo o pau todo dia no jornal". Além de bom de rima, o prefeito insinuou que pode haver relações promíscuas entre governo e imprensa, perigosíssimos para a democracia. E na resposta à Itamar, Anderson Adauto foi evasivo.
O Departamento de Comunicação Social da Prefeitura tem uma verba orçada para este ano em R$ 1, 79 milhões de reais, sendo que R$ 1,57 milhões estão previstos para serem usados naquilo que eles chamam "campanhas instituicionais", que nada mais são que aquelas propagandas canhestras em jornais, rádio e TV, tais como aquela bizarrice que fizeram na época no carnaval, que tinha no refrão a poética frase "agora quando eu dou a descarga, o rio não chora mais". Para se ter uma idéia, este dinheiro manteria o CESUBE por 2 anos e é quase duas vezes o dinheiro para a segurança pública.
Mesmo com esse dinheiro todo para fazer a propaganda dela, a prefeitura ainda quer que a imprensa seja complacente com coisas como (só para citar as críticas mais recentes) o alto custo da reforma da Praça do Correio, o nepotismo, os buracos nas ruas e o bisonho modelo de gestão implantado pela secretaria de saúde?
Transcrevo aqui as precisas palavras do jornalista Pedro Dória:
"Num ambiente de plena liberdade de imprensa, um órgão de comunicação pode defender o tom ideológico que bem entender. Imprensa tem mesmo que ser de oposição a qualquer governo. O governo não precisa de defensores. Tem poder. Muito poder. Poder suficiente para voltar-se com raiva contra qualquer órgão de imprensa e tentar sufocá-lo, recusando-se a publicar anúncios."
Como a propaganda oficial (que compra seu espaço da imprensa) jamais vai falar mal do governo, cabe a mídia que age com independência fazer o contraponto. E quem ganha com isso é o cidadão, que terá vários pontos de vista para serem analisados, e com isso, pode fundamentar a sua opinião. Afinal, o que imprensa de Uberaba publicou, até agora, foram fatos. Nada foi inventado. E se querem saber minha opinião, acho até que poderiam dizer mais. Não só do prefeito, como de outros políticos da cidade.
A atitude de criticar a imprensa com argumentos inócuos como transformar fatos irrelevantes em manchetes de jornais, deve ser repudiada pelos uberabenses. A imprensa fiscalizadora é uma conquista democrática, que não pode tentar ser tolida por aspirantes à ditadores que se fazem de vítima perante às câmeras de tv, acreditando que o povo vai engolir discursos vazios.
P.S.: Muito boa a sacada da jornalista Élvia Morais, que disse que a expressão "estou seguro" virou um marco pessoal de Anderson Adauto. Enquanto eu assistia à TV Câmara, eu percebi que ele disse isso sete vezes. E olha que eu não contei desde o princípio. Espero que o prefeito Anderson "estou seguro" Adauto esteja bem seguro do que vai dizer na Audiência Pública do CESUBE.

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