quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

BBB - Por um novo conceito de "baixaria"

Algumas coisas ou pessoas recebem rótulos que são convenientes para outros grupos. O Big Brother Brasil é um programa que muitas pessoas estão condicionadas a dizer que se trata de uma coisa fútil e banal, mesmos adjetivos dados às pessoas que assistem o programa. Mas poucas pessoas, inclusive os ditos intelectuais, não levam em consideração o fator ideológico das edições do programa e a forma com que o BBB é comentado na mídia.
A imprensa reclama da "baixaria" que está acontecendo explicitamente na edição nº8 do BBB, expressão que, segundo a articulista da Folha, Bia Abramo, é usada quando há uma sinalização clara de que algum limite do socialmente aceitável foi ultrapassado. Mas até onde eu sei, aquilo que a mídia está chamando de baixaria (bebedeira, pegação e... etc.), pode até ser que isso esteja fora do "limite do socialmente aceitável", mas nada muito diferente daquilo é feito em qualquer festinha que tem por aí, em todos os lugares, entre gente de todas as classes sociais. E outra: ninguém é obrigado a assistir o programa. Então porque levar tão a sério o que se passa naquela casa?
Em países europeus, aquilo que chamam por aqui de "baixaria", acontece de forma bem mais clara nos Big Brothers. Os videos disponíveis na internet dos Big Brothers sueco e holandês são para escandalizar qualquer pseudo-carola da mídia tupiniquim. Mas têm duas coisas que devem ser levadas em consideração. O Big Brother em grande parte dos outros países onde eles passam, não são os campeões de audiência da principal emissora de TV. Sinal de que nós é que damos importância demais. Outra coisa: Suécia e Holanda são países onde as pessoas vivem bem, os impostos são revertidos para o bem da população, o Estado não interfere tanto na vida privada das pessoas e os governantes dão espaço para a população se manifestar. No Brasil, o povo tem vez mesmo ao fazer justiça votando em algum Big Brother "mau caráter" (e pagando uma tarifa por isso) às vésperas de um paredão.
O brasileiro em geral ainda prega um moralismo hipócrita, embora isso seja um pleonasmo, afinal, todo moralismo é hipócrita. Mais do que isso, é um moralismo injustificado. Alguém pode me responder de forma racional, em que essas pessoas, que resolvem se mostrar na frente das câmeras, estão prejudicando alguém ou a sociedade? Infelizmente, nosso conceito de "limite do socialmente aceitável" é algo muito equivocado. Pessoas que estão realmente prejudicando outras estão imunes à repreensão da mídia. Algumas dessas pessoas são inclusive blindadas pela mídia. Cabe a nós, julgarmos o que é baixaria, pois para mim, perto do Congresso Nacional e outras instituições políticas, a casa do Big Brother parece mais um convento ou um mosteiro. Não há nada mais fora do "limite do socialmente aceitável" (foi a última vez que usei a expressão no texto, eu prometo) do que o acontece nessa casa da foto ao lado. Mas apontar o dedo para o comportamento das pessoas, é mais fácil e bem menos comprometedor.
Por fim, uma sugestão de leitura alternativa do BBB. O clássico site gaúcho de (mau) humor Zero Zen, tem os melhores comentários sobre o programa que eu já vi. O link anterior mostra comentários atualizados sobre o BBB 8 que você jamais encontraria nos grandes portais. Mas lá também tem informações dos programas anteriores.

Um comentário:

Evandro Souza disse...

Não posso deixar de manifestar sobre o texto sobre o BBB, do amigo sociolgo Gabriel Mendes. Excelente. Se o povo direcionasse seu olhar para o Congresso e votasse para que os politicos fossem para o paredão, teriámos uma sociedade mais forte, participativa. Deveriam perceber que estão sendo enganados com todo esse falatorio do programa. Está servindo somente para distrair e não enxergar o obvio.
Parabens, por esclarecer o obvio.