quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Contra o Amor - Uma polêmica, de Laura Kipnis

Antes do post, queremos agradecer a todos que tem passado por este blog e fizeram triplicar o número de visitas essa semana. Obrigado a todos também pelas sugestões. Uma delas, que resolvi acatar hoje, é de deixar de vez em quando a política de lado, e falar sobre cultura, comportamento e tudo que costuma vir nas nossas cabeças quando estamos reunidos entre amigos. Inicialmente, vou aproveitar parte dos textos do meu antigo blog, onde já fazia isso,
mas que está temporariamente desativado. Mais uma vez, obrigado.

Agora, um texto sobre o livro Contra o Amor - Uma Polêmica, de Laura Kipnis:


"Não há como ser contra o amor justamente porque nós, modernos, somos constituídos como seres que anseiam por satisfação, desejam conexão, precisam adorar e ser adorados, porque o amor é plasma vital e todo o resto do mundo é água de bica. Prostramo-nos nos portais do amor, ansiosos para entrar, como aqueles que não se cansam de aguardar do lado de fora das cordas de algum clube exclusivo na esperança de serem admitidos em suas salas suntuosas, confirmando assim nosso valor essencial e tornando-nos interessantes para nós mesmos."



Existe quase uma unanimidade na concordância sobre isso que foi dito acima, e a psicóloga Laura Kipnis adverte o leitor do livro logo de cara que a intenção é desconstruir tudo isso. segundo ela, todas as religiões tem seus hereges, mas o amor é praticamente uma unanimidade.


A crítica na verdade é ao casamento, e as tentativas frustradas de amor eterno. O livro não é necessariamente o que o título diz, portanto. No primeiro capítulo, mais técnico e talvez para a maioria o mais chato de todos, ela expõe a inviabilidade dos casamentos devido a vários fatores socioeconômicos da sociedade atual. No início do capitalismo, a ética calvinista transformou o casamento em aliado do sistema, já que as pessoas se casavam dentro de uma ética de trabalho e sacrifício, e os casamentos eram em grande parte arranjos familiares. No entanto, o capitalismo se transformou e criou a sociedade consumista e os casamentos raramente são arranjados. O hedonismo pode ser canalizado para o consumo. O resultado é que a indústria do sexo cresce a cada dia e o apelo da mesma faz com que o casamento se torne uma instituição em crise em nossa época.

Fonte: Tiras do Hagar

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Kipnis compara as casas de determinados casais com Gulags (antigos campos de concentração na URSS) e o segundo capítulo começa mais engraçado, quando ela mostra manchetes bizarras envolvendo crimes conjugais nos EUA. O medo e a dor de perder o amor é tão grande que se faz qualquer coisa para evitar que isso aconteça. Apaixonar-se também causa insegurança, ansiedade, e em alguns casos, violência exteriorizada. Níveis de confiança, grau de intimidade, perda de liberdade. Tudo ilustrado com muito humor. Em seguida ela volta a falar da questão da intimidade, na habilidade dos adúlteros, nas pequenas coisas cotidianas que acabam com um casamento e por fim faz um apanhado histórico de questões políticas (e de políticos) que envolvem comportamento.

Quando vi a entrevista de Kipnis no programa Roda Viva na TV Cultura, pensei que seria um livro complicado de se ler. O papo nesta entrevista foi muito além do livro, onde ela abordou outras questões polêmicas. Mas é um livro divertido, com informações interessantes e muitas vezes contraditórias. Um livro que não dá respostas, mas nos faz questionar, algo que todo livro deveria fazer. Eu mesmo não concordo com muito do que é dito. Mas não há nada que não tenha sido colocado que nos leve a refletir sobre o conceito que temos de amor. Eu ainda sou daqueles que acha que o amor é o "plasma vital" como ela diz, mas creio cada vez mais que ficarmos prostrados no tal portal não é a solução. Hoje existem muitos livros sobre o tema, mas este é um livro interessante tanto para quem quer ter explicações técnicas, quanto para quem quer se divertir. Recomendo!

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